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A 22, mandei diversas descobertas, pois estávamos nas zonas inimigas, já perto da fronteira e Ponta Porã. Regressando algumas descobertas, me informaram da marcha da força rebelde com direção a Ponta Porã. Apressei-me em dar proteção às forças amigas ali estacionadas, e a 23, pela madrugada, prossegui a marcha e às 7 horas da manhã, passava o Rio Dourados na antiga Colônia desse nome, e aí, enquanto mandei dar água aos cavalos e arrumar a força, tive um pressentimento, próprio da guerra, que os inimigos estavam perto. Em seguida, destaquei dois piquetes de polícia, um ao mando do bravo Tenente Wladislau Lima e outros do Alferes Irineu Mendes, para fazerem a retaguarda e flanqueadores, com ordem de se encontrassem qualquer força inimiga, depois de bem reconhecida, irem tiroteando e chamando-os, em retirada, ao centro de minhas forças. Momentos depois marchou toda a pequena coluna e, às 9 horas mais ou menos sentiu-se disparos de tiros, acerca de um quilômetro de distância, na vanguarda da força.
O terreno era próprio: descobertas campanhas; e a força na fralda de uma coxilha, e como era natural, o inimigo que se limitou simplesmente a atacar os piquetes, vieram cair nos centros de nossas forças, sem mais poderem se organizar, recebendo nessa ocasião um vivo fogo, de 50 homens, que mandei apear, e dos dois flancos. Vendo-se o inimigo perdido tentou levar uma carga que não só foi rechaçada, como teve logo de retaguarda uma bem organizada carga de nossa força que os destroçou completamente, deixando eles no campo 15 mortos, alguns prisioneiros, muitos cavalos encilhados, algumas armas, a tropa sobressalente em nº de 51 cavalos.
Da nossa força saíram simplesmente feridos alguns soldados que nem baixaram à enfermaria. Deste ponto da derrota, Bento Xavier, seus filhos, alguns amigos, todos em nº somente de 19 homens, fugiram em retirada procurando o Paraguai pela Cabeceira do Estrela, e a duas léguas dessa retirada um piquete das nossas forças correu-os a bala até na divisa do Paraguai e só se escaparam por estarem bem montados em cavalos que naqueles dias haviam roubado do sr. Manoel Moreira, fazendeiro no Brasil, que havia passado uma cavalhada para o Paraguai e ali mesmo foi arrebanhado pelos bandos Bentistas.
Reunida toda minha força mandei dar almoço, isso já às 3 horas da tarde, e aí fomos muito visitados, não só pelos nossos patrícios emigrados no Paraguai, na Fazenda Estrela, como pelos próprios cidadãos paraguaios empregados daquele importante estabelecimento paraguaio da firma Quevedo e Companhia, fortes negociantes da Vila Conceição, e protetores de Bento Xavier. Por eles e pelos prisioneiros nos foi contado que Bento havia saído um dia antes de Ponta Porã (Paraguai) e que ali arranjara bastante dinheiro, gente, armamentos, arrebanhara as tropas emigradas e se pusera em campo, trazendo recursos para os companheiros fugidos com ele do combate de 16 nas Areias, e que se encontraram naquela manhã na cabeceira do Estrela, formando já uma força de cento e muitos homens, todos bem armados e espontâneos, cavalhada muito boa, gorda e que levavam desta vez certeza de derrotar as forças do meu comando, por ter-lhes constado a minha morte no combate das Areias.
Ainda informaram-me os visitantes que Bento havia mandado um próprio a toda força para baixo da serra ordenando a um seu irmão de nome Antônio Xavier, que comandava um grupo de 70 homens mais ou menos, que se reunisse a eles com a máxima urgência, fazendo-o até responsável por qualquer desastre que houvesse. Não sabendo ele que este grupo já havia corrido em debandada para o Paraguai acossado por uma força legal comandada pelo Capitão Macias e chefiado pelo abnegado patriota Militão Loureiro, chefe do nosso partido
Nesta mesma tarde de 23 fiz um próprio a Ponta Porã, comunicando ao comandante do 17º Regimento de Cavalaria, ao Delegado de Polícia e ao comandante das forças patrióticas dali, que naquele momento havia derrotado completamente a força de Bento e que eu descia a serra com destino a Bela Vista a fim de observar dali a marcha dos rebeldes, ordenando ao Delegado de polícia que congregasse mais alguns elementos e rondasse a fronteira do Ipehum à Cabeceira do Apa, a fim de pacificar logo esta zona para não transcorrer complicações para todo o Estado. No mesmo dia regressei passando no lugar do teatro da luta e acampei na margem esquerda do Dourados.¹
Bento Xavier exila-se definitivamente no Paraguai, onde faleceu em 1915. A fase insurreicional do movimento divisionista de Mato Grosso, entretanto, seria encerrada somente com a revolta do regimento de Ponta Porã em 6 de maio de 1912. De Vila Conceição, onde se refugiou, Bento Xavier, em publicação no jornal O Tempo, de Assunção, transcrita pelo Correio do Estado (de Corumbá), explica a incursão, detalha os confrontos e reconhece a derrota:
No dia 1° de junho, a 1 hora da madrugada, passei a fronteira com 19 companheiros. A 1 hora da tarde desse mesmo dia, encontramo-nos com um piquete da polícia do Estado, comandado pelo capitão Reginaldo de Mattos. Travou-se a luta, ficando morto o capitão Mattos e ferido um de seus soldados, com a perna quebrada. Ficaram dois prisioneiros em meu poder, aos quais pus em liberdade para que conduzissem seu companheiro ferido até a casa mais próxima.
Daí seguimos em direção a Aquidauana, onde chegamos a 11 do mesmo mês de junho. A 16, encontrando-nos no lugar denominado Areias, dando pasto aos nossos cavalos encilhados, fomos surpreendidos pelos governistas. Toda nossa cavalhada fugiu, ficando a pé os meus soldados, em número de 120 homens mal armados. Apesar disto, consegui organizar 50 de meus antigos companheiros com armas e empreendi a retirada, perdendo apenas um homem e fazendo várias baixas no inimigo. Consegui também recolher 33 dos meus cavalos encilhados.
Depois, acompanhado de um de meus amigos, dirigi-me ao encontro de uma força de 80 homens, comandada pelo capitão Ozório de Baires, que era meu partidário, para ir em busca do inimigo. Como não encontrei Baires, segui até Ponta Porã, onde também contava com alguns elementos. Estando já de regresso, a 21 fui informado por meu filho mais velho Antonio Xavier da Silva, que se tinha encontrado nas imediações de Bela Vista, na estância de minha propriedade, com uma força de 78 homens comandados pelo delegado de polícia Álvaro Brandão.
Assim que avistei-me com essa força travamos luta. O delegado viu-se obrigado a retirar-se precipitadamente, alcançando os currais da estância onde entrincheirou-se. Entretanto teve de abandonar também a posição, deixando cinco mortos e onze armas de fogo com algumas munições. Não foi mais perseguida essa força porque as minhas tinham ordem terminante de não perseguir o inimigo já derrotado.
Nesse mesmo dia segui para incorporar-me à minha gente acampada na Estrela, defronte da estância dos srs. Quevedo. Desse ponto fui para adiante comandando 50 homens. A 23 encontrei-me com uma força adversária de 200 soldados, mais ou menos, e como o encontro deu-se em uma lombada limpa e as tropas estavam muito perto uma da outra, não pude evitar o combate. Mandei, então, carregar sobre o inimigo para ver se conseguia envolver a cabeça da coluna.
Meu plano foi burlado pelo inimigo que já nos tinha descoberto e era muito superior a nós em número e armamento. Assim é que os governistas, não podendo retroceder, carregaram também sobre nós, dando-se uma pequena refrega da qual resultaram várias baixas de ambas as partes.
Vi-me, assim, obrigado a retirar-me, deixando a vitória aos adversários.
Esta é a expressão da verdade.²
FONTE -¹Major Gomes, parte ao presidente Costa Marques, 11- 09-1911. ²Correio do Estado (Corumbá) 20-07-1911
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