Em luta aberta contra o governador Mário Correa, os senadores oposicionistas Vespasiano Barbosa Martins e João Vilasboas sofrem em Cuiabá atentando, em 22 de novembro de 1936, de repercussão no Estado e em todo o país:
A nossa pacata cidade de Cuiabá assistiu estarrecida e indignada, na noite de 22 do mês passado, a execução de um plano tenebroso, que visava a eliminação dos dois preclaros chefes da ‘Aliança Mato-Grossense’, senadores João Vilasboas e Vespasiano Martins, ultimamente chegados a esta capital.
Por volta das 22 horas daquele dia, depois da saída da última visita, dispunham-se já aqueles dois ilustres representantes matogrossenses no Senado da República a recolherem-se aos seus aposentos, quando a casa em que se hospedavam foi inopinadamente invadida por numeroso grupo de perigosos facínoras, arrebanhados em diversas localidades.
Penetrando na casa, o primeiro a ser visto foi o senador João Vilasboas que recebeu o primeiro tiro, ferindo-o no ombro direito.
Aos disparos desse primeiro tiro, acode o senador Vespasiano com o seu revólver em punho, recebendo logo a cerrada fuzilaria dos assaltantes.
Com uma coragem indômita, deteve o nosso valoroso chefe, um dos celerados, ferindo dois deles, obrigando-os a sair em debandada.
Terminada aquela luta infrene, desigual, estava a esvair-se em sangue o destemido chefe. Havia recebido três ferimentos: um na região acromial esquerda, com fratura do osso; um outro no terso superior da coxa direita, mais um outro na região deltoidiana direita e ainda mais um raspão de bala no antebraço direito, sendo que destes ferimentos só o da coxa apresentava orifício de entrada e saída.
O episódio é narrado pelo senador Vespasiano Barbosa Martins em entrevista ao correspondente do jornal A Noite, do Rio:
- Felizmente, estou bem. Deve ir bem todo aquele que viu a morte a dois passos...Eu posso dizer que a vi em tão pouca distância, de que que os sicários que invadiram a casa onde eu me encontrava hóspede com o Vilasboas, quando nos recolhíamos, dispararam as sua armas contra nós quase à queima roupa. Só não fomos imolados, miseravelmente, graças à minha atitude.
Atingido no braço esquerdo, pude ainda correr até a cômoda do meu quarto e daí retirar o revólver, com o qual enfrentei os miseráveis. Estes debandaram pelos fundos da casa, é verdade que depois de me ferirem em várias partes do corpo. O pijama com que me achava vestido está cheio de perfurações.
- Apresentam gravidade dos ferimentos?
- Muita gravidade, não. E o meu médico aí - aponta o dr. Virgínio Correa - garante que desta vez não vou...Tenho receio é de perder o braço esquerdo. O ferimento fez-me sofrer horrivelmente; basta dizer que a bala está encravada no osso.
O dr. Virgínio Costa afiança, entretanto, que o estado do doente não é muito lisonjeiro. Todas as precauções foram tomadas, mas deve-se levar em conta que três da balas que o atingiram ainda não foram extraídas.
O sr. Vespasiano Martins tem tido febre e há várias noites não consegue conciliar o sono.
Consultamos o senador se nos permitia bater uma chapa. Ele pensa em recusar, mas depois diz:
É bom mesmo, para que a Nação inteira veja o que se passa no meu Estado, no meu infeliz estado, que melhor sorte está a merecer!
Fizemos, ao invés de uma, duas chapas. E deixamo-lo em palestra com amigos, que ali afluíram ansiosos por saber notícias mais positivas de seu estado de saúde.²
FONTE: ¹Rubens de Mendonça, História do Poder Legislativo de Mato Grosso, Assembléia Legislativa, Cuiabá, 1967, página 239. ²Jornal A Noite (RJ), 2 de janeiro de 1937.
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