É
assassinado em Campo Grande em 9 de maio de 1940, o médico e dentista, Oscar
Alves de Souza, juiz de paz da cidade e ex-prefeito de Aquidauana.
Entrevistado pelo Jornal do Comércio, Nero Moura, principal testemunha da ocorrência, prestou as seguintes informações:
Após ter jantado com o Dr. Oscar Alves de
Souza, na casa de residência deste, saí em companhia dele afim de irmos
ambos, a pé, em demanda da casa de residência de nosso amigo comum sr. Messias
de Carvalho Araújo, para o cumprimentarmos pelo seu aniversário que transcorria
naquele dia.
Conversando com o meu inditoso companheiro,
seguíamos os dois pela rua João Pessoa (atual 14 de Julho),
descuidadamente, quando ao defrontarmos o prédio de sobrado do sr. Alfredo
Silva, sito nesta mesma rua João Pessoa, n° 1180, estando eu pelo lado de
dentro do passeio, portanto do lado direito do dr. Oscar Alves de Souza,
ouvimos alguém bem de perto, quase junto de nossas costas, pronunciar em tom
interrogativo estas palavras: "DR. OSCAR"? e em ato contínuo a
essas palavras, antes mesmo que meu companheiro se tivesse virado de todo para
quem assim o chamava, ouvimos dois disparos de arma de fogo, que pela rapidez
com que foram disparados, deram-me a primeira impressão de serem de arma
automática.
Compreendendo a agressão covarde e traiçoeira de
que fora vítima meu amigo atraquei-me simultânea e instantaneamente em luta
corporal com o agressor, afim de o subjugar.
Mas, embora já estando eu atracado com o
assassino, este conseguiu ainda disparar duas vezes a arma que empunhava.
Após o quarto e último tiro disparado,
consegui subjugar o assassino, derrubando-o ao solo, e no momento em que
já havia dominado por completo o covarde agressor de meu companheiro ia
arrancar da mão dele arma assassina, foi esta arrebatada por uma homem que se
aproximara e que se disse pertencer à polícia secreta de S. Paulo, o qual prendeu
o assassino auxiliado por autoridades policias desta cidade que correram ao
ruido dos tiros.
O criminoso, que "confessou motivos de
natureza íntima" para cometer o homicídio foi João de Souza Rangel,
sargento reformado do Exército e ex farmacêutico em Vista Alegre e
que segundo o jornal "já vinha há dias premeditando o crime, tendo
sido visto anteontem passando longo tempo nas imediações da casa de
residência do dr. Oscar Alves de Souza".
Natural de Minas Gerais, o dr. Oscar Alves de
Souza estava em nosso Estado há mais de 20 anos, logo depois de se
diplomar como cirurgião-dentista pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.
Sua passagem por Mato Grosso é resumida pelo
jornal de Campo Grande:
Foi morar em Aquidauana, onde abriu seu
consultório dentário, conquistando em pouco tempo, graças à sua proficiência
como dentista e ao seu feitio franco e cavalheiresco, não só uma vasta
clientela mas também uma grande e prestigiosa atuação social.
Casando-se naquela cidade com uma das
distintas filhas do saudoso chefe político cel. Augusto Mascarenhas, ingressou
também o dr. Oscar de Souza, pouco depois, nas lides da política, tendo ocupado
naquela cidade, sempre com grande brilho, os cargos de vereador municipal e de
prefeito, em que deixou traços anapagáveis da sua progressista
operosidade.
Desgostos na política local fizeram o dr. Oscar
de Souza transferir sua residência para Campo Grande, onde, demonstrando seu
amor ao estudo, concluiu no ginásio municipal seus preparatórios para o curso
médico, iniciando a seguir os seus estudos de medicina, tendo recebido o grau
de doutor em Medicina já há alguns anos pela faculdade do Rio de Janeiro.
Exerceu aqui durante alguns anos o cargo de
Delegado de Higiene, e, ultimamente, sem deixar o exercício da profissão,
vinha-se dedicando com ardor ao desenvolvimento de sua bela fazenda. Era
atualmente juiz de paz de Campo Grande.
FONTE: Jornal do Comércio (Campo
Grande), 10 de maio e 14 de maio de 1940.
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