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Índios coroados atacam fazendas em Coxim





Em 12 de setembro de 1883, índios da tribo Coroados em ataque a moradores da margem esquerda do rio Taquari, em Bom Jardim, no distrito de São José de Herculânia (Coxim) "fizeram 12 vítimas e roubaram tudo quanto acharam", colocando em pânico "todos os moradores daquela circunferência" e obrigando a retirada de todos, abandonando suas propriedades e pertences. A denúncia consta de um apelo às autoridades, publicado em jornal de Corumbá, implorando o restabelecimento da ordem na região:

"Os índios da tribo - Coroados - que no Taquari, à margem esquerda fizeram 12 vítimas e roubaram tudo quanto acharam, fato que deu lugar a que todos os moradores daquela circunferência se retirassem abandonando tudo quanto tinham, assaltaram minha casa às 10 horas do dia 6 do corrente, deixando-me a dura provação de ver flechados um casal de escravos, de cujos ferimentos está à morte um deles.

Antes de darem este assalto haviam surpreendido e assassinado a mulher de um meu agregado a qual fora encontrada com a cabeça espedaçada por uma mão de pilão - de que se serviram, e junto ao cadáver encontrou-se ensanguentada.

As criações que no meu terreiro estavam, ficaram todas feridas de flechas e algumas mortas.

Como é de todos sabido os vândalos rapinas - com suas correrias, plantaram nesta zona um geral horror e completo desânimo de modo que, está quase de todo cortado o trânsito da estrada em que os habitantes deste sertão, do Goiás e parte do de Minas, comerciam na povoação de S. José de Herculânia. E, se imediatos socorros não vierem a impedir a audácia destes índios, seremos todos suplantados pela miséria e inúmeros serão os prejuízos a lamentar-se no comércio deste distrito e não menos no de Corumbá.

O comandante do destacamento de Boa Vista, o sr. alferes Cipriano Alcides, a quem recorri temendo ser novamente agredido, mandou postar dois soldados em minha fazenda e outros dois na do sr. Leandro Borges, 5 léguas de minha residência, observando-me apenas, que tão logo acalmassem as hostilidades dos índios, tornassem os soldados ao destacamento, visto como se tomou a si o expediente de dar-me auxílio, foi pelo sentimento da piedade que o domina e não porque as autoridades, seus superiores, a isso instruissem, por isso que aconselhava-me a retirar quanto antes, afim de que seus soldados não demorassem fora do destacamento que, com as poucas praças que ali se compõe, podia ser também pelos índios atacado, e ele tinha então, necessidade de defender o quartel a mais pertences nacionais ou morrer sobre eles, com todos os soldados sob seu comando.

Dei razão ao dito sr. alferes; mas sr. redator em tais circunstâncias entre audazes e tiranos selvagens, sem poder com tranquilidade, cuidar de minha família objeto para cuja mantença me sacrifiquei a ocupar um pedaço de terra em que resido e onde tenho empregado não mesquinho capital, porém, sim de alguma importância, como devo estar e o que farei? onde trabalhar quando os terrenos estão de difícil aquisição e a quem pedir recursos em tão precária situação?

Providências a serem por mim tomadas, é a resignação de retirar-me de minha fazenda, sem esperança de jamais haver aquilo que com sacrifícios enormes pude adquirir em seis anos de assíduo labor.

Providências hão de sobejo; mas, para pedi-las o fraco som de minha voz, não alcança onde elas estão, e V. S. advogado da santa causa dos malaventurados e esclarecido como é, com a sublimidade de sua clara linguagem, com o robusto eco de seu conceituado jornal, do alto de sua tribuna tipográfica e traduzindo os sentimentos que nesta quadra de mim se apoderam e das mais vítimas minhas companheiras de sacrifícios, proclamará ao vivo ao administrador da província, os fatos supra narrados; e, então, far-me-á o favor, lhe rogo, pedir-lhe uma medida no sentido de afugentar esses índios, afim de que possamos tranquilos seguir a marcha de nossos trabalhos como outrora.

Convencido de que V.S. não se negará a este favor, desde já antecipo os meus agradecimentos e sou

De V. S.

Admirador am.°

Distrito de S.José de Herculânia no Bom Jardim, 12 de setembro de 1883.

José Venâncio Naves".

FONTE: jornal O Iniciador (Corumbá), 1° de novembro de 1883.


FOTO: reprodução meramente ilustrativa.


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