Após três
dias de batalha, o coronel Porto Carreiro, comandante brasileiro do forte
Coimbra, decide abandonar a fortaleza, em 28 de dezembro de 1864, imediatamente
ocupada pelo inimigo. Os pormenores dos combates, averbados pelo vencidos,
estão no relatório do comandante Vicente Barros ao ministro da Guerra e Marinha
do Paraguai:
Senhor Ministro:
Tenho a
honra de levar ao conhecimento de V.E. o resultado das operações feitas pela
força sob meu comando em cumprimento da comissão a mim confiada pelo Exmo.
Senhor Presidente da República.
Depois de
uma rápida e feliz viagem, a expedição
ancorou em frente de Coimbra na noite de 26 do corrente, e imediatamente depois
fiz desembarcar parte da força de meu comando na costa esquerda do rio Paraguai
à distância de uma légua mais abaixo do forte, de onde mandei proceder ao reconhecimento do terreno, ocupado as posições estratégicas mais
importantes que deviam servir de pontos de operações à divisão expedicionária e de onde podia
bombardear com vantagem, esperando
desalojar a guarnição do forte.
O vapor
de guerra brasileiro Anhambay com outro mais novo, que marchou no mesmo dia rio
acima encontravam-se no porto, o qual colocando-se mais tarde à proteção do
forte, contribuiu poderosamente em sua
defesa.
Feitos
todos os preparativos necessários, despachei a um oficial parlamentário para
notificar ao comandante do forte a intimação de rendição que tenho a honra de
anexar uma cópia à V. E. Esta intimação mereceu do dito comandante a
contestação, cuja tradução também junto.
Depois da
negativa do comandante do forte de Coimbra decidi apelar pelas armas. E com
efeito, cerca das 11 do dia mandei romper o fogo. A princípio somente as
canhoneiras grossas sustentaram o combate contra as baterias inimigas, porém
logo tomaram parte peças volantes, cuja colocação na fralda do morro fronteiriço
a Coimbra representava alguma dificuldade, e que bem colocadas, fizeram algum
efeito em seus tiros acertados na fortaleza e sua guarnição.
Aos dois
dias de bombardeio, oportuno fazer uma tentativa de assalto; a qual se levou a
efeito às duas da tarde do dia 28 do corrente, com mais ardor do que a
prudência aconselhada. Parte da força que ocupa a fralda da colina de Coimbra
ao mando do sargento-major Luis Gonzalez, avançou rapidamente em direção aos
muros do forte por meio de quatro fendas diferentes abertas abaixo do mais
sustentado fogo da artilharia do forte, por todas as peças que batem a fralda
do morro. No momento de acercar-se à muralha nossos soldados receberam uma
torrente de balas, metralhas e granadas procedentes tanto do forte como do
vapor inimigo. Mas os paraguaios, conservando sempre sua serenidade e com uma
decisão e arrojo admiráveis, avançaram sempre sobre aqueles de seus mesmos
companheiros de armas que primeiro haviam vertido seu sangue por sustentar os
direitos da Pátria. Muitos conseguiram assim alcançar os altos muros do forte,
sendo quase invariavelmente rechaçados à ponta de baioneta ou vítimas das
granadas que eram atiradas ao pé do muro.
O assalto
foi executado com toda a velocidade que recomendam as ordens, porém visto as
grandes dificuldades que lhes impediam o passo, tanto por parte dos defensores
do forte, quanto pela natureza desvantajosa do terreno, se retiraram os nossos
recuando-se sobre esta reserva, levando consigo a maior parte dos feridos.
Nesta
jornada distinguiu-se o benemérito subtenente de 1ª. Classe da 3ª. Companhia do
batalhão n° 6, Juan Tomas Rivas, que dando um nobre exemplo à sua companhia foi
o primeiro pisando os cadáveres de seus companheiros conseguiu subir o muro por
duas vezes, repelido na primeira e caindo na segunda de um balaço na frente a
aumentar o número dos que com seus gloriosos restos escalavam desde o pé do
muro. Este digno oficial da Pátria, caiu heroicamente dos altos muros de
Coimbra, deixando um assinalado exemplo para seus companheiros, por sua
decisão, serenidade e bravura.
O
sub-tenente 2° da companhia de caçadores do batalhão n° 7, Manuel Lopez, não
caiu menos gloriosamente de um capacete de bomba na frente, conduzindo a
companhia sob seu comando, a cuja cabeça
seguiu até que desfaleceram suas forças.
Durante a
séria ameaça do alferes Rivas lograram escalar e penetrar na praça por um de
seus flancos o sargento Laureano Sanabria e 7 companheiros da companhia que o
batalhão n° 7 tinha ali de serviço, e lutaram corpo a corpo, até sair fora de
combate todos eles, mortos ou feridos, à exceção do soldado Pedro Castellano a
quem ao descer do muro conseguiu escapar
ileso.
Pelo que
se vê a fortaleza era sustentável, porém podendo tentar-se com esperança outro
assalto com os conhecimentos adquiridos na primeira tentativa e o exemplo de
haver podido assaltar os muros o sargento Sanabria e seus valentes
companheiros, tomei as medidas necessárias para o dia seguinte, fazendo entre outras que as peças da
companhia situadas à esquerda do rio, à ordem do capitão Almiron, tomassem uma
posição mais conveniente para impossibilitar o fogo do Anhambay, cortando-lhe
sua retirada, afim de que não pudesse escapar, porém a guarnição do forte, apercebendo-se destes movimentos
e tremendo ante a ideia de uma assalto mais estudado com o conhecimento que
havia adquirido da intrepidez de nossos soldados, aproveitando-se da escuridão da noite e ao abrigo das
brenhas, fugiu precipitadamente, amparando-se no vapor Anhambay para escapar
rio acima, levando o soldado já citado, Pedro Castellanos e deixando um ferido
de sua nação. Até aqui o tenente-coronel Porto Carreiro havia feito boa defesa
da inexpugnável fortaleza que comandava.
Depois da
fuga da guarnição que, sem dúvida, receosa dos ataques para o dia seguinte, a
fortaleza foi ocupada pela guarda que lhe era mais imediata e desde o dia de
ontem a bandeira nacional tremula sobre os muros de Coimbra, que caiu ao nosso
poder com 37 canhões, sua bandeira e o estandarte de sua guarnição, centenas de
armas portáteis de toda classe, com um parque imenso, víveres, roupa feita e de
uso, assim como outros objetos, como maestranza, botica, serviço de oratório,
uniformes de oficiais, decorações,etc.
Não é
possível, senhor ministro dizer à V.E. o número nem classe de mortos dos
inimigos, porque forma jogados n’água, porém, pelos rastros de sangue
encontrados e os projéteis explodidos, esse número não deve ser insignificante.
Do nosso
lado, nós não tivemos na classe oficial mais perdas do que os dos homens corajosos
que eu mencionei e a tropa, constante da lista anexa, cujo número considero
pequeno, considerando que nossos soldados combatiam contra as muralhas e a
completa vantagem dos inimigos, cuja mosqueteria era invisível aos nossos soldados, fazendo seu
fogo pela abertura de seus parapeitos.
Como V.E.
observará pela lista de feridos que tenho que acompanha nesta classe se
encontra o sargento-major Luis Gonzalez e os sub-tenentes Manuel Nuñes e
Plácido Mendez, não sendo por enquanto de caráter grave suas feridas. O major
Gozalez tem sustentado bem o posto que lhe foi confiado.
Eu devo
felicitar ao Exm° Señor Presidente da República e à Pátria, pelo
bizarro comportamento das tropas de meu comando em Coimbra, porque a
resistência de uma fortaleza de séculos, provou tão vantajosamente dos brios
dos soldados da Pátria.
Amanhã
empreenderei minhas operações sobre Albuquerque e Corumbá onde espero encontrar
os fugitivos deste forte.
Fortaleza
de Coimbra, 30 de dezembro de1864.
Deus
guarde à V.E. muitos anos.
VICENTE
BARRIOS
FONTE: El Semanário, Assunção (PY), 7 de janeiro de
1864.
FOTO: vapor brasileiro Anhambay,exposto no parque Vapor
Cuê, em Caraguataí, Paraguai.
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