Pular para o conteúdo principal

Guerra do Paraguai: Antonio João tomba em combate



Iniciando sua invasão ao território brasileiro, via terrestre, tropas comandadas por Martin Urbieta alcançam em 29 de dezembro de 1864, o forte de Dourados, então sob a chefia do tenente Antonio João Ribeiro, filho de Poconé, que, “com apenas 16 homens enfrenta o inimigo em flagrante desigualdade de condição e com grande heroísmo, não se rende. Antes de tombar em holocausto à pátria, escreve o famoso bilhete que está gravado no monumento erguido em sua homenagem na Praia Vermelha no Rio de Janeiro:

“Sei que morro, mas o meu sangue e o dos meus companheiros servirá de protesto solene contra a invasão do solo de minha pátria”.¹


O comandante Martin Urbieta resumiu o episódio em relatório enviado no dia seguinte ao seu superior em Assunção:


Senhor Ministro:


Com o devido respeito tenho a honra de dar parte à V. E. de que em 29 do que expira, cheguei nesta colônia de Dourados sem que fosse percebido por nenhum indivíduo e sendo divisado à curta distância ouvi tocar uma chamada breve e, tomando armas, marchou o comandante com alguns homens de resguardo; o tenente de infantaria Manuel Martinez, que levava o ataque, lhe exigiu a rendição e respondeu o comandante brasileiro que em caso de trazer-lhe ordem do governo imperial, se renderia, senão, não o faria de nenhuma maneira.


Com esta resposta, pronto se travou o combate e o comandante de Dourados, tenente Antonio João Ribeiro, caiu com as primeiras balas, o mesmo com dois indivíduos mais, fugindo o restante o monte do riacho de onde foram reconhecidos em número de doze, incluindo um ferido e um cabo, havendo escapado os demais da guarnição com o 2° comandante.


Da tropa sob meu comando só o tenente Benigno Dias recebeu uma contusão e ferido um soldado de infantaria.


Tenho a honra de acompanhar à V.E. a conta de armas tomadas neste ponto.


Pelas declarações e pelos papéis tomados se vê que faz mais de dois meses que este ponto estava avisado de retirar-se quando alguma força paraguaia aparecesse, sendo, segundo parece, esta disposição geral nos outros destacamentos.


Deus guarde a V.E. muitos anos.


Colônia de Dourados, 30 de dezembro de 1864.


MARTIN URBIETA.²



FONTE: ¹Lélia Rita F. Ribeiro, Campo Grande, O Homem e a Terra, edição da autora, Campo Grande, sd, página 120; ²El Semanário, Assunção (PY) 7 de janeiro de 1865.
FOTO: Monumento aos heróis da guerra do Paraguai, na Praia Vermelha, Rio de Janeiro.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O assassinato de Henrique Spengler

Encontrado morto em casa, em 21 de março de 2003, em Coxim, vítima de agressão física, Henrique Spengler. 45 anos, nascido em Campo Grande, filho de José Roberto Spengler e Glorieta de Melo Spengler. Notabilizou-se como pesquisador das manifestações culturais indígenas e nativistas, dedicando-se, particularmente à nação Guaicuru. Foi ativista e um dos fundadores Movimento Cultural Guaicuru. Artista plástico, segundo Maria da Gloria Sá Rosa, Spengler "ao pesquisar a abstração dos padrões de desenho de couros, cerâmicas e tatuagem dos Cadiuéu, absorveu a essência das etnias regionais, projetando-a de maneira singular na linguagem das linhas e da forma". Professor, dedicou-se à disciplina História Regional que o interessava particularmente, havendo influenciado na inclusão da matéria no currículo escolar do Estado. Intelectual  participou ativamente de todos os projetos de identidade cultural de Mato Grosso do Sul, a partir da criação do Estado. Em 2004, o cineasta Alexandre B...

Bando dos baianinhos aterroriza o Estado

Os irmãos Batista, gaúchos, domiciliados em Campo Grande, conhecidos como baianinhos , utilizando automóveis e até metralhadoras, aterrorizam fazendeiros em praticamente todo o território do atual Estado de Mato Grosso do Sul, especialmente no Pantanal, onde estão concentrados os maiores rebanhos bovinos no Estado. O impacto da organização criminosa teve repercussão nacional, como vemos na ampla reportagem da Agência Meridional, publicada em 15 de dezembro de 1943, em todos os jornais dos Diários Associados: Diante dos sucessivos assaltos de um bando que usa metralhadoras de mão, a população matogrossense pergunta: Lampeão, Corisco e Silvino Jacques terão encontrado sucessores aperfeiçoados? É o que vem acontecendo com o aparecimento dos ‘baianinhos’, grupo de bandoleiros que fazem incursões na região sul de Mato Grosso, tendo nos últimos dias de novembro efetuado ataques a cerca de 11 fazendas. Silvino Jacques, como se sabe, assolou com sua gente o nordeste do Estado,...

Morre Bento Xavier, o maragato

Faleceu aos 53 anos em Belém, Paraguai, em 27 de setembro de 1915, o gaúcho Bento Xavier da Silva. Natural de Santana do Livramento, chegou ao Sul de Mato Grosso no final do século XIX, como refugiado da revolução federalista na qual lutou no exército maragato de Gumercindo Saraiva, derrotado pelos picapaus de Júlio de Castilho. Em Bela Vista dedicou-se à pecuária, ingressando em seguida nas lutas políticas regionais. Um dos pioneiros na luta pela divisão de Mato Grosso, liderou na primeira década do século passado a fase insurrecional da campanha separatista, chefiando um movimento conhecido como  Revolução da Paz , que "chegou a ter mais de 5.000 seguidores, que, para a época era um verdadeiro exército". Batido nos  combates de Estrela , em 1911 por tropas legalistas comandadas pelo major Gomes exilou-se no Paraguai, onde passou a trabalhar como açougueiro.  FONTE : Sidney Nunes Leite,  Bela Vista uma viagem ao passado , edição do autor, Bela Vista, ...