Igreja do frei Mariano no início do século XX, restaurada por fiéis |
Frei Mariano de Bagnaia, pároco de Miranda,
que, com outros brasileiros de sua paróquia, se refugiara no Pantanal, retorna
ao vilarejo em 22 de janeiro de 1865, com a intenção de salvar sua igreja. O
ensejo de sua prisão é descrito por Taunay no II capítulo de seu livro Retirada
da Laguna:
A 22 de fevereiro de 1865, deixando Frei
Mariano as margens do Salobro, onde se refugiara, ao aproximar-se da invasão,
viera, de moto próprio, entregar-se aos paraguaios, no intuito de lhes pedir
compaixão para com a desventurada paróquia. Ao chegar à vila, fora-lhe o
primeiro cuidado correr à matriz, objeto de sua mais viva solicitude. Desolador
espetáculo o esperava: altares derribados, as imagens santas despojadas dos adornos,
enfim todas as mostras da profanação. Ao presenciá-lo, dele se apoderou tal
sentimento de indignação e de desespero, que não pode dominar-se. Imediatamente
e em tom retumbante, à frente do chefe paraguaio e seus comandados, pronunciou
solene anátema contra os autores de tal atentado. Ouviram-no todos cabisbaixos,
como se esta voz severa fosse de algum daqueles Padres que outrora lhes havia
catequizado os antepassados, esforçando-se o comandante em convencer o
missionário que os únicos culpados eram os Mbaias (Índios).
Lavado em lágrimas, corria o santo homem de altar em altar, como para verificar os ultrajes praticados contra cada um dos objetos de sua veneração. Só após minuciosa constatação de todas as indignidades cometidas se resignou a celebrar o santo sacrifício da missa; e isto depois de tudo haver disposto para que a cerimônia se pudesse realizar.
Preso logo após celebrar a missa e levado
para o país vizinho, frei Mariano foi libertado no Paraguai pelo exército
brasileiro em 16 de
agosto de 1869, quando retornou ao Brasil.
FONTE: Taunay, A Retirada da Laguna, (16ª edição brasileira), Edições
Melhoramentos, São Paulo, 1963, página 34.
FOTO: reprodução do Album Gráfico de Mato Grosso (1914).
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