Notícia veiculada no jornal A Pátria, de Corumbá, de 10 de maio de 1905, dá pormenores da enchente que cobriu a cidade de Porto Murtinho:
O paquete Nioac, enviado pelo governo do Estado em socorro da infeliz Porto Murtinho, assoberbada pela extraordinária enchente atual do rio Paraguai, regressou ao nosso porto na noite de 7 do corrente. Vieram a seu bordo muitas famílias, negociantes, o destacamento de polícia e grande número de peões, ao todo 245 pessoas, das quais 7 ficaram em caminho.
Os recém-chegados, verdadeiros náufragos, confirmam em sua plenitude, contando suas próprias desventuras, o estado de horror e desolação, o pânico apavorante a que chegou ultimamente aquela até então florescente localidade.
Pormenorizemos os fatos, ainda que rapidamente.
O rio, que crescia lentamente como aqui, em os últimos dias avolumou-se rápido, igualou com a barranca, venceu-a e a poderosa massa líquida cobriu célere toda a povoação, ficando as águas com uma altura média de 80 centímetros.
Os habitantes assustados fugiram, parte indo para a Villa Conceição e e Porto Rico, e parte refugiou-se, uns no Bocaiuval, meia légua distante, e outros na costa paraguaia do lado oposto do rio, onde ficaram acampados num pequeno capão ilhado.
A lancha S. Lourenço entrou pelas ruas da povoação, transformada em nova e triste Veneza, o foi até o Bocaiuval.
Entre os acidentes ocorridos, menciona-se o de uma inocente criança, que, dormindo numa cama, resvalou dela e foi cair n'água, morrendo afogada.
O Nioac foi recebido com indiscritivel júbilo por aqueles pobres refugiados, que jaziam sem recursos de espécie alguma.
A provisão de mantimento que ia a bordo foi devidamente dividida, segundo as necessidades do momento, seguindo uma parte para a Foz do Apa e outra para o referido Bocaiuval.
O nosso amigo major José Mário Trouy, administrador da mesa de rendas, secundado pelos seus auxiliares e mais outras pessoas, tem sido incansável em atender de forma possível as circunstâncias críticas da ocasião.
Vulnerável às cheias, Porto Murtinho viveria no correr de todo o século XX, várias enchentes. O problema somente viria a ser parcialmente solucionado em 1985, com a construção de um dique, pelo governo federal.
FONTE: Jornal A Pátria (Corumbá), 10 de maio de 1905.
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