Estação de Ribas do Rio Pardo em 1922 |
Estacionado desde o dia anterior na ponte da ferrovia, nas proximidades da vila de Ribas do Rio Pardo, o destacamento da Coluna Prestes, sob o comando de Siqueira Campos, faz em 31 de maio de 1925, “um reconhecimento ofensivo sobre a estação de Rio Pardo, conseguindo ocupá-la depois de cerrado tiroteio, destruindo-a então. Era uma demonstração de força que visava a atrair para aquele ponto todas as forças governistas que guarneciam o eixo da Noroeste. A manobra deu resultado,conseguindo toda a divisão, sem maiores problemas, alcançar a vila de Jaraguari, a 4 de junho, a apenas oito léguas de Campo Grande".¹
Otávio Gonçalves Gomes, em sua infância, testemunhou a invasão de Rio Pardo, descrita em seu livro "Onde cantam as seriemas":
A noite decorreu sem novidade, mas sob intensa atividade militar. Quando o dia vinha clareando, disse meu pai : - Não vieram até agora, não vêm mais. Dessa nós estamos livres.
Foi a conta. No mesmo instante começou o tiroteio. Os revoltosos atacaram pelo triângulo, onde viravam as locomotivas, e era o lenheiro, na esplanada da estação da Noroeste do Brasil.
Abriram duas alas tentando cercar a estação que era o ponto vital de comunicações.
Ao contornar a Olaria dos Gomes, esbarraram com um brejo que não dava passagem.
Os mineiros, destemidos defensores da vila, se haviam entrincheirado por trás do lenheiro, e cerraram fogo nos revoltosos.
Contam que um preto, muito forte e destemido, avançou até poucos metros da trincheira com um revólver na mão e com a mala na outra e gritava: - Abram a porteira que lá vai o Touro.
Nesse instante, a única metralhadora existente engasgou... e o Touro avançou... foi morrer nas barbas dos valentes mineiros que não arredaram pé.
A salvação da vila foi um rapazinho, jovem franzino, mas calmo e valente. Entrincheirou-se atrás do forno da casa do Zé Domingos e de costas para a estação, mas guarnecendo a retaguarda, foi matando os atacantes que conseguiam com muita dificuldade passar o brejo, as cercas de arame e surgiam por trás.
O mineirinho foi derrubando os atacantes que surgiam aos poucos, um a um.
O ataque foi furioso, mas a resistência, tenaz. Os revoltosos, numerosos não esperavam por isso. Eles costumavam atacar de surpresa, roubavam, destruíam e desapareciam. Nunca persistiam quando encontravam resistência.
No aceso da luta, meus tios mais afoitos tentavam abrir uma fresta na janela do sobrado para ver os revoltosos que estavam atirando do alto, junto da igreja de Nossa Senhora da Conceição.
Cada vez que alguém tentava abrir um vãozinho da janela, as balas zuniam, batiam nas paredes, zumbiam na aroeira dos esteios do sobrado, ricocheteando no ar.
Eles estavam atentos ao ponto estratégico que era o sobrado, que, por sinal a tropa não soube aproveitar.
No meio dessa confusão toda, sempre havia um menino bisbilhotando e querendo ver o que estava ocorrendo. Quantas vezes foi preciso o meu pai nos ameaçar de bater, porque estávamos querendo ver, e as balas andavam zumbindo por toda parte.
Foi assim que transcorreu o primeiro combate a bala a que assisti em minha vida.
Não tendo noção do perigo, aquilo para mim foi mais uma divertida brincadeira de bang bang.²
FONTE: ¹Glauco Carneiro, O revolucionário Siqueira Campos, Record Editora, Rio, 1966, página 374. ²Otávio Gonçalves Gomes, Onde cantam as seriemas, (2ª edição), edição do autor, Campo Grande, 1988, página 83.
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