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Motim no quartel de Bela Vista




Quartel do 10 R.C.I de Bela Vista


Aderindo à revolta chefiada em São Paulo pelo general Izidoro Dias Lopes, oficiais do 10° RCI de Bela Vista, tenentes Riograndino Kruel, Pedro Martins da Rocha, Jorge Lobo Machado e o médico Umberto Peretti, em 12 de julho de 1924, revoltaram aquela unidade do Exército, com a prisão do comandante tenente-coronel Péricles de Albuquerque.

Segundo Pedro Ângelo da Rosa, "no mesmo dia, à hora da revista, os sargentos David Guimarães, Bernardo Duprat, Samuel Duprat, Eneas de Vasconcelos, Oscar Rodrigues de Araujo, Heitor Pereira, Jonas Vasconcelos, Altino Vasconcelos, Vitor Vascoelos e Januário Magalhães, tendo entrado em combinação prévia, promoveram a contra revolta, soltando o comandante, que foi reintegrado no seu posto e prenderam os oficiais revoltosos, que seguiram para a sede da Circunscrição Militar em Campo Grande. Aqueles sargentos foram elogiados pela sua ação e comissionados ao posto de segundos tenentes, pelo Presidente da República, fato que contribuiu desfavoravelmente para a revolução, em todo o País."¹

A revolta dos militares, no pouco tempo que durou, estendeu-se à área civil, com a deposição por ordem dos rebeldes do intendente geral do município Militão Loureiro de Almeida. Em seu lugar assumiu a prefeitura o vereador Accyndino Sampaio, que enviou ao presidente da Câmara Municipal o seguinte ofício:

Levo ao vosso conhecimento que tendo-se hoje revoltado parte da oficialidade do 10° Regimento de Cavalaria, e que tendo sido eu e o Dr. Armando de Almeida Barros, intimado por uma praça armada a comparecer na Intendência Municipal e ali fui intimado pelo Sr. Tenente Lobo Machado que estava naquela repartição com força armada, a assumir o cargo de intendente, apesar de minha recusa, foi pelo mesmo Sr. determinado que tinha de assinar uma ata, e como se tratava de uma situação anormal em que nossas vidas poderiam correr perigo, pois que já se achava preso o vereando comandante coronel Péricles, tive que aceder bem como todos os presentes que assinamos a referida ata. Exigindo o referido tenente do secretário da intendência um livro ele trouxe da Câmara, que pelo mesmo Lobo Machado foi lhe determinado que lavrasse a ata onde fomos obrigados a assinar todos os presentes. Me foi determinado que recebesse o arquivo da Tesouraria o que não o fiz. E aconselhei o Sr. Tesoureiro e intendente que continuassem em seus cargos e que procurasse acautelar algum dinheiro que por ventura tenha na Tesouraria. E para que não apareça qualquer exploração a meu respeito levo este fato ao vosso conhecimento. pedindo mandar cancelar a referida ata, por ter minha assinatura a consequência de uma coação. Peço dar conhecimento a essa ilustre câmara na sua primeira reunião deste meu protesto e desse esbulho que foi pretendido de fazer pelos revoltosos. Respeitosas saudações. (a) Accyndino Sampaio.²



FONTE: ¹Pedro Ângelo da Rosa, Resenha Histórica de Mato Grosso (Fronteira com o Paraguai) Livraria Ruy Barbosa, Campo Grande, 1962, página 71. ²Sydney Nunes Leite, Bela Vista uma viagem ao passado, edição do autor, Bela Vista,1995, página 235. 

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