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Iniciada exploração ao desconhecido Sul do Estado


Serra de Maracaju, no roteiro dos primeiros exploradores de Cuiabá


137 anos da descoberta de Cuiabá e 108 depois da criação da capitania de Mato Grosso, parte de Cuiabá para exploração no sul do Estado, em 25 de setembro de 1856, o capitão Francisco Nunes da Cunha. De seu retorno, no ano seguinte, entrega ao presidente Augusto Leverger, o barão de Melgaço, o seguinte relatório:

A zona do terreno compreendida a leste pelo rio Brilhante e a oeste pelas alturas da serra Maracaju, e que se estende desde o paralelo que fica ao sul das últimas cabeceiras do rio Dourados, é a que mais ou menos percorri e explorei; ela compõe-se de altas e bonitas chapadas, separadas por uma infinidade de vertentes, que formam os ribeirões Santo Antônio, Santa Gertrudes, Cachoeira, Santa Maria e Dourados; cada uma das vertentes é coberta de espessa mata, excelente para cultura de toda espécie de grão; os leitos dos ribeirões que ficam ao norte são mais ou menos descobertos ou bordados de estreita mata pouco própria para cultura; na confluência de seus galhos, porém, sempre há matas de boa qualidade.

A proporção que se anda para o sul e desde o ribeirão da Cachoeira, vê-se que se multiplicam as vertentes e que as matas, tornando maiores, guarnecem já grande parte das margens dos ribeirões; no mesmo rio Dourados se observa que as matas das últimas vertentes dos sul são mais extensas e mais abundantes em madeira e erva-mate do que as das vertentes do norte: nestas matas predomina a peroba da melhor qualidade e ali crescem com tanto viço e vigor que tomam proporções extraordinárias; em qualquer mata que casualmente se penetre encontram-se sempre perobas, cujos troncos têm às vezes, vinte, trinta ou mais palmos de circunferência. 

No esboço que acompanha este, estão figurados os três galhos do rio Dourados, que se aproximam mais das matas conhecidas pelas do Iguatemi; destes galhos, um corre a leste e dois a nordeste e destes últimos o de oeste, por sua posição topográfica relativamente à das referidas matas, o que deve ser escolhido para na sua margem ser assentada a projetada colônia. A uma légua das mencionadas matas e duzentas braças arredado da margem direita do citado galho, fiz plantar um esteio lavrado para marca ou sinal do lugar que me pareceu mais próprio para assento da colônia.

A chapada que separa as águas do Dourados das que nascem das matas supramencionadas, é dos terrenos que explorei o mais elevado; dela a rumo de sudoeste se avista uma alta serra que corre de noroeste a sueste e que parece estar a dez léguas mais ou menos e já a leste das cabeceiras do rio Apa.
 
Desta vistoria resultou a construção da colônia militar de Dourados, hoje município de Antônio João. Até então as únicas áreas habitadas no Sul do Estado eram a decadente fazenda Camapuã, a vila de Santana do Paranaíba, Nioaque, Miranda, Vacaria, Forte Coimbra e Albuquerque.


FONTEEstevão de Mendonça, Datas Matogrossenses, (2ª edição) Governo de Mato Grosso, Cuiabá, 1973, página 167.

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